Foram três histórias bem diferentes dentro do mesmo índice. A Vale aparece como uma grande exportadora de commodities entrando numa fase de disciplina de capital e foco em geração de caixa; o Itaú reafirma o papel de banco privado mais rentável e eficiente do sistema; e o Banco do Brasil atravessa uma fase de ajuste, lidando com a deterioração da carteira de crédito do agronegócio. Olhar para essas três ações em conjunto ajuda a entender por que a semana foi tão relevante para quem acompanha o mercado de ações brasileiro.
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Vale - A Gigante da Mineração em fase de Disciplina e Prêmio de Qualidade
- A Vale foi o grande destaque da semana, com alta próxima de 6% e o fechamento acima dos 70 reais pela primeira vez em cerca de dois anos.
- O grande gatilho foi o Vale Day 2025, evento em que a companhia atualizou projeções de produção, investimentos e política de retorno ao acionista.
- A mensagem central foi de crescimento mais seletivo, com ênfase em projetos de minério de ferro de maior qualidade, custos sob controle e fluxo de caixa previsível, em vez de uma expansão agressiva a qualquer preço.
As metas divulgadas apontam para produção de minério de ferro em torno de 335 a 345 milhões de toneladas em 2026, com espaço para avanços graduais ao longo da década, sempre com foco em rentabilidade. A empresa reforçou o compromisso com um custo C1 competitivo e destacou projetos como o Serra Sul+20, que adiciona volume de alto teor a custo abaixo da média do portfólio. Tudo isso vem acompanhado de uma política de distribuição generosa, com dividendos e juros sobre capital próprio que colocam a ação entre as melhores pagadoras da bolsa, sustentados por fluxo de caixa livre robusto e dívida líquida controlada. Não por acaso, boa parte dos analistas passou a descrever a nova fase da empresa como um momento de “menos barulho e mais disciplina”, o que ajuda a reduzir o desconto que o papel carregava em relação ao próprio preço do minério.

No gráfico semanal, a fotografia é de virada clara de patamar. A vela larga de alta rompeu de forma limpa a região dos 68–70 reais, que vinha servindo como zona de congestão, e levou a cotação para perto dos 72 reais.
O preço trabalha acima das duas médias móveis principais (50 e 200 semanas), mostrando que a tendência de curto e médio prazo ficou alinhada numa mesma direção.
O MACD semanal abriu um movimento de alta consistente: o histograma ficou fortemente positivo e as linhas do indicador se afastam uma da outra, sinalizando ganho de momentum. Esse conjunto - rompimento de resistência relevante, preço acima das médias e oscilador virando para cima - reforça a leitura de que a Vale saiu de um período lateral e entrou numa fase de tendência, em que eventuais correções até a região dos 68–69 reais tendem a ser vistas mais como oportunidade de entrada do que como sinal de fraqueza estrutural.
Itaú Unibanco - A Máquina de Lucros que Consolida a Liderança do Sistema Financeiro
- O Itaú Unibanco teve uma semana positiva, com valorização na casa de 2,5% e renovação de máximas recentes.
- A alta não foi tão explosiva quanto a da Vale, mas veio na sequência de resultados do terceiro trimestre muito sólidos, que confirmaram o banco como o mais rentável da bolsa.
- O lucro líquido recorrente ficou perto dos 12 bilhões de reais, com crescimento de dois dígitos ano a ano, e o retorno sobre o patrimônio líquido se manteve acima dos 23%, nível que poucos concorrentes conseguem atingir por um período tão longo.
A margem financeira com clientes continua a crescer de forma saudável, apoiada numa carteira de crédito diversificada e numa gestão prudente do risco. A inadimplência permanece controlada, mesmo num ambiente de juros ainda elevados, e a disciplina de custos aparece num índice de eficiência em patamar historicamente baixo. A isso se soma um programa consistente de remuneração ao acionista, com dividendos e juros sobre capital próprio em volume elevado, o que torna a ação atrativa tanto para quem procura crescimento quanto para quem valoriza geração de caixa previsível.
É uma combinação rara: banco grande, com presença dominante no varejo e no atacado, entregando rentabilidade elevada sem precisar assumir riscos excessivos.

O gráfico semanal de ITUB4 reflete essa história de consistência. O ativo vem construindo topos e fundos ascendentes ao longo de vários meses, com correções relativamente curtas e incapazes de romper a estrutura de alta.
A cotação trabalha consolidada acima da média móvel de 50 semanas, que funciona como uma espécie de “linha de tendência dinâmica” acompanhando o movimento, e já se encontra bem distante da média de 200 semanas, mostrando que o mercado, na prática, reprecificou o banco para um patamar mais alto.
O MACD semanal permanece em terreno positivo, embora com desenho mais “maduro”, típico de um movimento que já percorreu boa parte do caminho. Isso significa que a tendência é de alta, mas o ativo pode alternar fases de avanço com períodos de consolidação lateral, em vez de subidas verticais. Em termos de níveis gráficos, a região dos 39–40 reais aparece como zona importante de suporte, enquanto a faixa dos 43–44 reais é o intervalo natural para o mercado testar novos alvos caso o fluxo comprador continue presente.
Banco do Brasil - Entre a Recuperação técnica e uma Realidade fundamental mais Pesada
- O Banco do Brasil também fechou a semana no campo positivo, com alta perto de 2%, mas a leitura de fundo é bem diferente da de Vale e Itaú.
- A instituição atravessa uma fase de ajuste, marcada por forte deterioração da carteira de crédito ligada ao agronegócio.
- O resultado do terceiro trimestre mostrou uma queda acentuada do lucro líquido ajustado e um recuo expressivo do ROE para níveis de um dígito, muito abaixo do histórico recente do banco e do custo de capital que o mercado costuma exigir para o setor.
A carteira agro, que representa fatia relevante do balanço, viu os indicadores de atraso dispararem, obrigando o banco a reforçar de forma significativa as provisões para perdas esperadas. O custo do crédito subiu de maneira abrupta, e o próprio guidance do Banco do Brasil para o ano foi revisto para cima nessa linha, deixando claro que a normalização não será imediata. Embora a margem financeira com clientes ainda se beneficie dos juros altos, uma boa parte desse ganho acaba consumida pelas provisões. O resultado é uma instituição que, em teoria, pode parecer barata em múltiplos, mas que depende de uma melhoria concreta do cenário do agronegócio e de uma boa execução interna para voltar a um nível de rentabilidade mais competitivo.

O gráfico semanal de BBAS3 reforça a ideia de que o movimento recente tem mais cara de alívio técnico do que de mudança estrutural de tendência. A ação reagiu a partir de mínimas recentes e voltou para a casa dos 22–23 reais, mas ainda negocia abaixo das médias móveis de 50 e 200 semanas, que funcionam como resistências importantes concentradas na mesma região.
Enquanto o preço não conseguir se firmar acima dessas referências, o mercado tende a encarar o movimento atual como uma recuperação dentro de uma tendência maior ainda fragilizada.
O MACD semanal começa a se afastar da zona negativa, indicando perda de força vendedora, mas não mostra a mesma clareza de reversão vista em Vale e Itaú. Em termos práticos, a área em torno de 23–24 reais aparece como o “teste de fogo”: um rompimento consistente desse nível abriria espaço para um cenário mais construtivo, enquanto uma nova virada para baixo a partir daí reforçaria a ideia de que o ativo ainda não saiu totalmente da fase de correção. Os suportes imediatos ficam perto dos 21–22 reais, faixa que não deve ser perdida para que a perspectiva de recuperação, mesmo que lenta, continue viva.
Conclusão
A semana de 1 a 5 de dezembro de 2025 deixou três mensagens importantes para quem acompanha a bolsa brasileira.
- Vale conseguiu transformar um ciclo de commodities, que por natureza é volátil, numa história de disciplina de capital, custos competitivos e política de dividendos consistente, o que justifica o prêmio que o mercado está disposto a pagar pelas ações.
- O Itaú segue como referência de rentabilidade e execução no sistema financeiro, entregando lucros robustos, controle de risco e eficiência operacional num nível que poucos concorrentes conseguem replicar.
- Mais cautelosa: o Banco do Brasil vive um ciclo em que o peso da carteira problemática no agronegócio ainda fala mais alto do que o potencial de valorização que o múltiplo possa sugerir.
Para quem investe com foco em fundamentos e prazo mais longo, Vale e Itaú se apresentam hoje como histórias em que contas e gráfico caminham na mesma direção, enquanto BBAS3 exige um grau maior de paciência e tolerância à incerteza, na expectativa de que a limpeza da carteira e a normalização dos resultados aconteçam ao longo dos próximos anos. É justamente essa diferença de qualidade entre as três narrativas que ajuda a explicar por que, numa semana de euforia na bolsa, as ações ligadas a disciplina e execução foram as que mais se destacaram.